Teoria Crip
[Original por Marcela V. O.]
Tradução Jackeline Susann S. Silva.
Disponível em: http://faptdivers.blogspot.com.es/2008/02/teora-crip.html
Assim como a masculinidade hegemônica e a
heterossexualidade, a funcionalidade completa do corpo é uma não-identidade.
Esta se forma da norma pela qual não se pode identificar como uma posição
específica. Se forma de um ponto de partida ‘natural’ e por um dado feito,
desde o qual se formam as outras identidades, e por isso de alguma maneira não
chama atenção. O que chama a atenção é o que é uma posição de identidade
destacada, é a ‘anormal’, a diferente.
Assim, nascem os temas sobre a
homossexualidade, a deficiência e sobre a mulher.
O divergente se problematiza e se politiza, em vez de se
questionar a norma que cria estes ‘problemas’. A Teoria Crip (Crip Theory) se
centra em como se cria a perfeição do corpo e desveste a sua naturalidade. O
ponto de partida é uma análise do binário capacitado/discapacidado
(abled/disabled), presumindo que este é não-natural e hierárquico.
McRuer chama de “Critical Disability” a posição de qual é
possível questionar a ideia completa de capacidade física e a descreve como uma
discapacitação consciente, que não é o mesmo que uma discapacidade; sendo uma
identidade, um posicionamento político, que a sociedade pode se questionar.
Enquanto que a discapacidade se trata de uma exclusão imposta e não desejada, a
discapacitação é uma identificação consciente com a exclusão, um lugar desde
qual a normalidade se pode criticar. Esta discapacitação consciente (critica),
cuja a trajetória pode traçar-se nos movimentos de libertação dos anos ’60 e
70’, desestabiliza a identidade de capacitado (como uma completa capacidade
física).
Segundo a Teoria Crip, a ‘critical disability’ produz uma
crise de identidade na norma, através de qual a sociedade aprende a tolerar o
divergente até um certo ponto. A identidade normatividade se faz flexível. A
identidade flexível é uma ‘vitima’ necessária para manter a dicotomia
divergente/capacitado-capacidade reduzida. O aumento da tolerância tem como tarefa
manter a posição normativa intacta, garantir a futura existência da norma. Se
trata de uma tolerância que sempre exige o submetimento dos divergentes.
Ao que se refere a criação de identidades, a Teoria Crip,
utiliza o conceito de ‘performatividade’ de Judith Butler. As identidades dos
capacitados se criam quando estes tratam de parecer-se o ideal de indivíduo
capacitado fisicamente (‘perfeito’). A sociedade se converte em uma cena onde
os cidadãos atuam com suas identidades normativas e normatizadoras. A
identidade normativa flexível se converte, por vezes, em ‘performatividade’.
Outro sentido, é a análise crítica da completa capacidade
física que oferece a Teoria Crip, é mais difícil que a análise sobre a
heterossexualidade e masculinidade hegemônica. Estas duas são secundárias com
respeito a capacidade física. Estar em uma situação onde a perfeição física
arrisca-se ser questionada, tem como consequência que tanto o sexo como a
sexualidade não se podem identificar (uma crítica comum aos estúdios sobre handicap,
é que tanto a análise como a teoria veem as pessoas como sem sexo e assexuais).
Outra coisa, é que não é possível falar ‘dos deficientes’.
McRuer afirma que ‘crip’ se posiciona em relação a ‘deterioração’ e
‘deficiência’, como ‘queer’ se posiciona em relação a ‘lesbiana’ ou ‘gay’, quer
dizer olha com ceticismo diante das categorias institucionalizadas (com claros
limites traçados entre elas).
Se a distinção entre capacidade reduzida/discapacidade e
capacidade completa não se pode alcançar, é possível para o sujeito e as
identidades ir mais além do limite e não desejar-se posicionar como perfeito ou
imperfeito. Isto é possível, segundo McRuer, através da impossibilidade de
alcançar a perfeita capacidade física; em relação a esta todos de alguma maneira
somos submissos. Isto da possibilidade de uma posição relativamente geral que
sobretudo os ‘normais’ tolerantes destacam, quer dizer, que “todos somos
discapacitados de alguma maneira”, o que implica que todos estamos na mesma
situação. Para McRuer, esta ideia é desafiante, já que rompe com a barreira
nós-eles, mas também pode ser bastante favorável para os neoliberais, já que é
possível reduzir as obrigações.
A categorização das pessoas com deficiências é necessária
para manter a discriminação que cria a discapacidade [deficiência]. Capacidade
reduzida-discapacitação, são duas caras da mesma moeda, esta é uma das ideias
básicas da Crip Theory. Uma é a condição para que exista a outra. A
categorização é uma ferramenta para criar e manter a exclusão. A Teoria Crip
marca a posição/identidade como um possível ponto de partida para questionar a
normalidade.
Embora as pessoas com capacidade reduzida compartilhem da
exclusão, a identidade consciente está longe de ser consequência disso. Por
isso é mais relevante falar em uma capacidade reduzida/discapacidade como duas
caras da mesma moeda. A deficiência, os impedimentos para a participação e a
igualdade que criam a exclusão podem levar a uma discapacitação consciente.
Também pode levar a que o indivíduo acomode suas expectativas e internalize a
opressão. Uma discapacitação consciente significa que o indivíduo ‘sai’ com sua
nova identidade política.
Crip é uma posição contra do ableismo (discriminação das
pessoas com deficiência em favor das pessoas que não são) mas, não é
necessariamente uma ideia homogênea sobre a capacidade reduzida/discapacidade
como identidade. Portanto, ser Crip é identifica-lo e impor resistência contra
o atavismo, assim como ser feminista é se posicionar contra a ordem do poder.
Não é necessário ter uma deficiência para ter uma posição Crip, da mesma
maneira que não é necessário ser mulher para tomar uma posição feminista. Portanto,
crip como posição tem o potencial de ser inclusivo. Ainda que exista o risco de
que os capacitados usurpem o ‘crip’ e esvaziem seu potencial radical, diz
McRuer.
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Referências
McRuer, Robert : Crip Theory: Cultural Signs of Queerness and Disability. New
York University Press, 2006.
Berg, Susanne & Grönvik, Lars: Crip Theory – en
preliminär positionering. 2007