quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O ´ESPECIAL´ ASSOCIADO ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

A PALAVRA ´ESPECIAL´ há muito não deveria ser mais usada nas várias esferas da vida quando se trata de pessoas com deficiência. Mas o ´hábito´ e o pre-conceito sobre as pessoas com deficiência está tão cristalizado no cérebro da maioria das pessoas que se mantém a tendência de dizer:
- tenho um aluno/a ´especial´
- na minha escola temos crianças ´especiais´
- tenho um filho/a que é ´especial´
- tem um ´especial´ na minha turma...

Venho insistindo neste tema também há algum tempo, mas não posso garantir que minhas contribuições geraram mudanças significativas. Dessa forma, aqui vai mais uma vez uma solicitação de NÃO USEM MAIS A PALAVRA ´ESPECIAL´ para se referirem à pessoas com deficiência!!! Eles são pessoas, SUJEITOS DE DIREITOS - que tem nome e atributos como qualquer outra pessoa.

Este filme, espero, provocará um impacto tão grande em você que o/a fará pensar duas 
vezes antes de usar a palavra ´ESPECIAL´novamente. Curta e compartilhe!
Copie e coloque em sua barra para assistir ao filme...

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Currículo Funcional, Qualidade de Vida e Transição para a Vida Ativa da Pessoa com Deficiência

O tema Currículo Funcional, como uma abordagem pedagógica de transição para a vida adulta (TVA) é chave no desenvolvimento humano da Pessoa com Deficiência, em particular aquelas que são jovens, jovens adultos e adultos, os/as quais ainda permanecem infantilizados por não encontrarem oportunidades de desenvolvimento humano.
No Brasil há iniciativas de trabalhos que adotam o Currículo Funcional, todavia a ênfase do que é desenvolvido em algumas instituições, profissionais ou mesmo em nível municipal e estadual é colocada no ´funcional´e não na Transição para a Vida Ativa.
Isto ignifica que a pessoa com deficiência aprende algumas ´funções´ ou desenvolve sua ´funcionalidade´para cozinhar (muito comum), produzir algo no âmbito de papelaria (cadernos, blocos) ou construir bijuterias, pinturas, mobiles, etc. mas sua produção se mantém circunscritas à instituições ou escolas e não implica a transição para a vida adulta produtiva e remunerada.
Por exemplo, há milhares de oficinas de pintura, artesanato, bijuterias, gastronomia (pães, bolachas, trufas), madeira, papelaria, manicure, entre outras espalhadas em instituições em território nacional, MAS a atividade ´curricular funcional´em si mesmo desenvolvida não tem como objetivo principal preparar para a Vida Ativa, inserir no mercado de trabalho local (no bairro onde moram) e, mais importante ainda, gerar autonomia e independência financeira.
Ao contrário, as produções que são vendidas dentro das próprias instituições, para visitantes ou em feiras e ações externas geram recursos usados na compra de materiais ou para realização de alguma atividade porque as prefeituras e os estados não suprem as demandas financeiras...
Se comparado a experiências institucionais internacionais - por exemplo, na Holanda, Alemanha, Dinamarca, Inglaterra*, países nos quais visitei instituições segregadas onde vivem pessoas com deficiências. Estas instituições possuem recursos - para nós brasileiros/as - inimagináveis: profissionais altamente qualificado em áreas específicas (com mestrado e doutorado), recursos de todo o tipo e muiiiiiito dinheiro(!).
Por exemplo, na Inglaterra visitei uma instituição-escola para crianças com deficiência física em 1995/1996. Quando cheguei havia um carro (tipo doblo) da escola trazendo estudantes que já era todo adaptado e (pasmem!) o motorista era uniformizado e treinado para ajudar estas crianças. Na entrada da escola, com corredores bem amplos havia em torno de 40 cadeiras de rodas! Durante a visita estava passando em frente a um toilette quando presenciei uma fisioterapeuta chegar naquela área trazendo uma menina obesa em um ´veiculo movido a controle remoto´ que entrou na área do banheiro. A fisio, então, ativou o dispositivo levantando a menina com as correias que a sustentavam e a colocando no vaso sanitário. Quem estava comigo explicou que o veiculo assegurava que a profissional não tivesse problemas de coluna!!!
Na Holanda, visitei uma instituição onde moram muitos jovens, adultos e idosos com deficiência e também atende crianças pequenas. Esta instituição está localizada em uma área que ocupa o espaço de um bairro pequeno e que, no passado, foi destinada ao isolamento de pessoas com doença mental. Neste ´bairro´há casas nas quais moram pessoas com deficiência. Seus quartos são individuais e absolutamente pessoais e cheios de recursos (como quartos de jovens adolescentes em filmes americanos): TV, aparelhos de som, toca CDs (na época em uso), bichos de pelúcia, jogos, equipamentos de som, etc. A pessoa que me levou nesta visita havia adotado desde pequeno dois rapazes irmãos orfãos que viviam neste espaço desde muito cedo... (note que a adoção não implicava ir viver com a família...)
Na Dinamarca visitei Soelund em 2012, uma instituição para pessoas jovens e adultas com diferentes tipos de deficiência. Havia simplesmente 750 funcionários, incluindo profissionais terapeutas, acompanhantes, etc. para 250 pessoas institucionalizadas. Ou seja: 3 funcionários para 1! Ali havia casas enormes com jardins para cada 08 pessoas com cozinhas maravilhosas que nunca eram usadas porque a comida vinha pronta(!), piscina aquecida (claro! a Dinamarca é um gelo) e, uma sala de estimulação sensorial imensa chamada snoozelen.
Na Alemanha, foi chocante saber que havia em torno de 5.000 estudantes da Educação Especial que também aprendiam a ensinar uma disciplina (matemática, línguas, geografia, etc) porque o sistema é todo segregado. Por exemplo na maravilhosa cidade de Cologne (a quarta maior cidade da Alemanha), com em torno de 1 milhão de habitantes (Campinas no estado de SP tem em torno de 1 milhão) havia na época 20 escolas especiais bem grandes e muitos atendimentos domiciliares, hospitalares, particular, etc.
Enfim, enquanto na Europa os países tem recursos financeiros, humanos e materiais, as pessoas com deficiência estão segregadas e impedidas de se desenvolverem. Aqui no Brasil, por outro lado, temos uma das mais avançadas politica de inclusão social e educacional e falta de recursos financeiros, materiais e humanos que nos impedem de colocar o marco político-legal em pratica de forma efetiva, o que justifica ainda (e infelizmente) a manutenção de práticas de infantilização de jovens e adultos com deficiência independentemente de suas características de aprendizagem.
Em 2008-09 iniciamos na Universidade Federal da Paraíba o Projeto de Extensão Universitária PRÓ-LÍDER - promovendo a autoadvocaia de jovens com deficiência associado a uma pesquisa de mestrado (acesse: Nada sobre Nós sem Nós: promovendo a autoadvocacia de jovens com deficiência ) que evidencia que com oportunidades todos/as tem chance de se desenvolver e se tornar mais independente e autônomo. Um dos jovens surdo e com comprometimento motor se tornou delegado do movimento em defesa dos direitos dos jovens. Duas jovens - uma surda e outra cega entraram na universidade, um jovem com deficiência intelectual passou a trabalhar no Carrefour e aprendeu a se posicionar frente a discriminação e preconceito...
Com tudo isso quero dizer que não há soluções fáceis, mas que tanto quanto qualquer um de nós e de nossos filhos/as sem deficiência a pessoa com qualquer tipo de deficiência tem direito a se tornar autônoma e independente assim como a receber pelo seu trabalho e ser encorajada a produzir para ser inserida no mercado de trabalho-mesmo que este tenha caráter informal.
No dia 12 de Setembro de 2017 houve em Brasilia, promovido pela Câmara dos Deputados e coordenado pela equipe do Deputado Eduardo Barbosa o I SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE EDUCAÇÃO AO LONGO DA VIDA, no qual abordei o tema dos Currículos Funcionais. Você pode assistir à minha palestra e à todo evento se quiser clicando em:









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* A Ingla terra é um país onde há uma forte tendência inclusiva que foi iniciado com a publicação do Relatório Warnock na década de 70, que lançou o conceito de necessidades educacionais e influenciou o movimento da inclusão no mundo. É dito que o país tem em torno de 1% de escolas especiais...
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