domingo, 11 de setembro de 2016

Jogos paralímpicos: de onde vieram e para onde vão?

Vamos conhecer a história dos jogos Paralímpicos???

As primeiras disputas entre atletas com algum tipo de deficiência aconteceram há mais de um século. Hoje, a Paralimpíada é um dos eventos esportivos mais importantes do mundo.

As primeiras disputas entre pessoas com deficiência de que se tem notícias datam de 1888. Elas aconteceram em Berlim, na Alemanha, onde clubes estimulavam a participação de surdos nos esportes. Mais tarde, lá pelos anos 1920, nos Estados Unidos, tiveram início atividades como natação e atletismo para atletas com deficiência visual. Mas foi somente depois da Segunda Guerra Mundial (19391945) que as competições ganharam força.

O NEUROLOGISTA LUDWIG GUTTMANN, 
ESPECIALIZADO EM LESÕES NA COLUNA, 
FOI O PIONEIRO DAS COMPETIÇÕES EM CADEIRA DE RODAS 
(FOTOS RAYMOND KLEBOE/GETTYIMAGES)
O embrião foi formado a partir de 1944, na Inglaterra. Como os métodos tradicionais de reabilitação não poderiam atender às necessidades de um grande número de soldados com deficiência, o governo britânico pediu ao neurologista e neurocirurgião Ludwig Guttmann que criasse um centro especializado em lesões na coluna, no Hospital Stoke Mandeville. Além de usar a fisioterapia no tratamento, o médico recorreu ao esporte para motivar seus pacientes, começando por arremessos 
de bola para exercitar os membros superiores. A iniciativa gerou aumento de resistência física e de autoestima. E foi ali que a reabilitação por meio do esporte evoluiu de recreacional para competitiva.

MARGARET MAUGHAN, MEDALHA DE OURO NO TIRO COM ARCO NOS PRIMEIROS JOGOS PARALÍMPICOS, EM ROMA (1960), PARTICIPOU DA CERIMÔNIA DE ABERTURA DA PARALIMPÍADA DE LONDRES 
(FOTO: BUDA MENDES/GETTYIMAGES)





Agora vamos aos fatos que levaram ao surgimento e ao crescimento dos Jogos Paralímpicos.


1948: lançados os Jogos de Stoke Mandeville. Enquanto acontecia a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, em 29 de julho de

1948, Guttmann comandava a primeira competição de pessoas com deficiência. Dezesseis militares inscritos, entre homens e mulheres com algum tipo de lesão, participaram de um torneio de tiro com arco.

1952: a Holanda entra em cena. Militares holandeses foram convidados a participar dos Jogos de Stoke Mandeville, abrindo espaço para a primeira competição internacional para pessoas com deficiência. À medida que o esporte adaptado crescia, surgiam inovações para melhorar a vida dos atletas.

A Guerra Fria e a corrida espacial alavancam o desenvolvimento do plástico e seus compostos: espumas de plástico e fibras de vidro começaram a ganhar espaço em hospitais, centros de terapia e na confecção de próteses.

1958: o Brasil dá os primeiros passos no esporte adaptado
Após sofrerem lesão medular em razão de acidentes, dois brasileiros procuraram serviços de reabilitação nos Estados Unidos que incluíam a prática esportiva. Na volta, Sérgio Serafim Del Grande, de São Paulo, e Robson Sampaio de Almeida, do Rio de Janeiro, fundaram associações onde inicialmente era praticado o basquete em cadeira de rodas. São eles os precursores do esporte adaptado ou seja, a prática de uma atividade esportiva adaptada para pessoas com deficiência por aqui.

1960: enfim, Jogos Paralímpicos. Oficialmente com esse nome, eles aconteceram em Roma, na Itália, com 400 inscritos de 23 países, imediatamente após os Jogos Olímpicos.

1964: surge a Organização Internacional Esportiva para Deficientes (ISOD, na sigla em inglês). A entidade passou a oferecer oportunidades para todo tipo de atleta com deficiência com problemas de visão, amputados, com paralisia cerebral e paraplégicos.

1972: Brasil estreia em Jogos Paralímpicos
Aconteceu em Heidelberg, na Alemanha, com um grupo de 20 atletas homens, que terminou sem medalhas. Outras 41 delegações marcaram presença no evento. Nos anos 1970, teve início também a era da popularização do plástico – material leve e flexível – no desenvolvimento de próteses mais confortáveis e próprias para a prática esportiva.

1976: a primeira medalha brasileira, nos Jogos de Toronto, no Canadá. A dupla Luiz Carlos Costa e Robson Sampaio Almeida estreou no pódio, com uma medalha de bronze, em uma prova de lawn bowls (espécie de bocha sobre grama). A partir dessa edição, cegos e amputados também entraram nas disputas.

1980: a vez de atletas com paralisia cerebral. Eles começaram nos jogos da cidade de Arhnem, na Holanda. Participaram 125 portadores de paralisia cerebral, 341 com deficiência visual, 452 amputados e 1.055 cadeirantes.

1984: 22 medalhas para o Brasil. Na edição que teve duas cidades sediando os jogos Nova York, nos Estados Unidos, e Stoke Mandeville, na Inglaterra , o Brasil garantiu mais de duas dezenas de medalhas e terminou na 24a colocação no quadro geral de medalhas, com 7 ouros, 17 pratas e 4 bronzes.

1988: os Jogos Paralímpicos passam a acontecer na mesma cidade que os Olímpicos. Depois de várias edições com sedes diferentes, Seul, na Coreia, recebeu os dois eventos. E assim foi daí por diante.

1989: fundado o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês). A entidade, sem fins lucrativos, nasceu em Dusseldorf, na Alemanha, com o objetivo de atuar como órgão dirigente do movimento paralímpico global.

1992: Barcelona, um primor de organização. Grande parte da cidade-sede foi adaptada para receber confortavelmente 3 mil atletas, independentemente do tipo de deficiência. Três atletas brasileiros tiveram performances memoráveis: Luiz Cláudio Pereira, no arremesso de peso, Suely Guimarães, no lançamento de disco, e a velocista Ádria Santos, que ganhou seu primeiro ouro ao vencer a prova dos 100 metros.

1995: fundado o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)
A entidade foi criada tendo como principal função consolidar o movimento paralímpico no Brasil, difundindo o esporte de alto rendimento para pessoas com deficiência.

1996: a prótese Flex-Foot Cheetah é usada pela primeira vez na Paralimpíada de Atlanta, nos Estados Unidos. De fibra de carbono material flexível e de alta absorção de energia e inspirado na pata do guepardo, o modelo passa a ser a sensação nas pistas de atletismo.

2000: quebrados 300 recordes mundiais e paralímpicos. O palco dessas conquistas foi Sydney, na Austrália. Nessa edição, o Brasil conseguiu sua melhor colocação em Jogos Paralímpicos até então, com 6 medalhas de ouro, 10 de prata e 6 de bronze, ficando em 24o lugar no ranking final. Começava a trajetória de conquistas de uma nação paralímpica.


TEREZINHA GUILHERMINA É UMA DAS ATLETAS MAIS PREMIADAS DA HISTÓRIA PARALÍMPICA DO BRASIL, COM MEDALHAS EM ATENAS, PEQUIM E LONDRES 
(FOTO ROBERT DAEMMRICH/GETTYIMAGES)

2008: brasileiro leva 9 medalhas na natação em Pequim. Daniel Dias conquistou 4 medalhas de ouro, 4 de prata e 1 de bronze.Outro grande destaque foi a velocista Terezinha Guilhermina, que garantiu o ouro nos 200 metros e a prata nos 100 metros rasos. No futebol de 5, o Brasil sagrou-se bicampeão paralímpico. Com 47 medalhas no total, pulamos para a 9a colocação no ranking mundial.

2012: novas conquistas em Londres. Cumprindo a meta estabelecida pelo CPB, sob a gestão do presidente Andrew Parsons, o Brasil saltou do 9o lugar no quadro geral de medalhas em Pequim para o 7o, com 21 ouros. Essa edição que recebeu 4.200 atletas de 166 países foi marcada pela épica vitória do velocista Alan Fonteles sobre o sul-africano Oscar Pistorius nos 200 metros da classe T44. Nas competições e no dia a dia dos atletas, as próteses passaram a se mostrar ainda mais eficientes e personalizadas graças à utilização do plástico em sua composição, garantindo leveza, design e beleza. As próteses são um exemplo de como o plástico pode contribuir para soluções que permitem maior acessibilidade e qualidade de vida.


Daniel Dias ganha o 1a. Medalha de Ouro para o Brasil 2012

2016: a hora do Rio. Os Jogos Paralímpicos são o maior evento de esporte de alto rendimento para atletas com deficiência. Apesar disso, são enfatizadas mais as conquistas do que as deficiências dos participantes. A cerimônia de abertura no Rio está marcada para 7 de setembro e a cidade quer entrar para a história recebendo 4.350 atletas paralímpicos, de cerca de 170 países, que vão disputar 22 modalidades.


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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Jogos Paraolímpicos: os super-humanos...

Windyz Brazão Ferreira


Nós, pessoas sem deficiência somos tão limitados em termos de nosso entendimento sobre a diversidade humana que, mesmo com a vibração e a emoção que sentimos ao ver os Jogos Paralímpicos, não conseguimos mudar nossas crenças sobre as competências super-humanas das pessoas com deficiências... se elas tiverem oportunidades como qualquer outra pessoa para desenvolvê-las!!!

Triste para nós – pessoas sem deficiência - que perdemos a oportunidade de conviver, aprender e nos tornarmos melhores seres humanos porque ainda acreditamos que as pessoas com deficiência são incapazes. 

Agora, clique abaixo e se emocione assistindo ao vídeo incrível criado pelos britânicos sobre os super-humanos/as, os atletas com deficiência que dizem: - YES, We can!!! (Sim nós podemos!!!) 
Enquanto você assiste reflita se considera que poderia fazer o que esses atletas com deficiência fazem!

Há mais de 30 anos convivo direta ou indiretamente com crianças, jovens e adultos com deficiência e suas famílias, em particular suas mães – mulheres de garra e força interior.

Nesta longa jornada aprendi que pessoas com deficiência, independentemente do tipo de deficiência, são pessoas - seres humanos de muita luz que (eu acredito!) voltaram à terra para nos ajudar a nos tornarmos melhores seres humanos, mais iluminados porque se não fosse pelas pessoas com deficiência muitos movimentos, conceitos/princípios/valores e mudanças - que favoreceram também a outros grupos vulneráveis - não teriam acontecido.

Se não fosse, principalmente, pelas pessoas com deficiência...

- não teria acontecido a Conferência de Salamanca em 1994 na Espanha e a consequente publicação da Declaração de Salamanca (UNESCO 1994), que foi disseminada mundialmente,

- não haveria o movimento pela inclusão educacional, social e econômica de inúmeros outros grupos sociais que estavam invisíveis nas diretrizes internacionais e políticas nacionais no final do século passado, entre os quais, citamos, os negros, os indígenas, os ciganos, os que moram em áreas remotas e rurais, etc.,

- não teria sido criado um enorme corpo teórico (conhecimentos em vários campos científicos) sobre direitos humanos e o direito à participação de inúmeros grupos vulneráveis que devem estar incluídos nas várias esferas da vida,

- não se teria um movimento internacional sobre acessibilidade, conceito que beneficia inúmeros grupos sociais nas várias esferas da vida,

- não se teria um ampla discussão sobre a diversidade humana & as diferenças individuais que caracterizam a espécie humana e, portanto, nós todos/as teríamos menos desenvolvidas nossa humanidade, espiritualidade e mente,

- não haveria no Brasil uma Secretaria de Diversidade e Inclusão...

- não haveria a Paralímpiadas...

E, apesar de tudo, ainda acreditamos que as pessoas com deficiência são incapazes, incompetentes, não podem aprender... ainda acreditamos que as pessoas com deficiência devem participar das Olímpiadas separadamente.

Triste... muito triste!!! Será esta separação inclusiva?



Inclusão x Exclusão na Paralimpíada... o que está por traz da segregação dos jogos paralimpícos?


Jackeline Susann Souza da Silva
Universidad de Salamanca, Espanha

Tradicionalmente os jogos olímpicos, para equiparar as chances de competição, são organizados por critérios como gênero, faixa etária, peso, entre outros. A deficiência também é um critério levado em consideração na organização das competições. A grande diferença é que a deficiência é compreendida como um único critério que separa, segrega e desagrega os dois maiores eventos esportistas do mundo: Olimpíadas e Paralimpíadas.

Tradicionalmente, tal “separação” não é percebida de maneira negativa. Até aí, tudo bem! No entanto, é inegável que a Paralimpíada ainda não recebe a mesma atenção que a Olimpíada em termos de cobertura jornalística, visibilidade dos atletas e patrocínio. Inúmeras são as razões para isto acontecer.

Capacitismo

Até pouco tempo as pessoas com deficiência não eram ouvidas ou tinham oportunidades de participação na família, na educação, na comunidade, no mercado de trabalho, na vida política, etc. Embora este cenário esteja em processo de mudança (lenta) a exclusão das pessoas com deficiência ainda é, com frequência, percebida com naturalidade pela sociedade.

No entanto, esta percepção tem mudado com as conquistas de direitos e de reivindicações que tem como base os movimentos protagonizados pelas próprias pessoas com deficiência. Gradualmente, portanto, torna-se inaceitável por esta população aceitar sem protestar as posições sociais de subalternidade e de menos valia dentro das quais teimamos em colocá-las.

Mesmo com mudanças significativas, por exemplo, a conquista de um vasto marco político e legal que trata de inclusão e acessibilidade no Brasil, a cultura de capacitismo ainda é forte assim como o é o racismo e o machismo. 

Por isso, a Paralimpíadas deve constituir para nós um momento oportuno de revisão de nossas concepções negativas e capacitista sobre este grupo social cujos membros - as pessoas com deficiência - se tiverem oportunidades, chances de participação e apoio podem atingir mais realizações do qualquer um de nós já atingiu. 

Sim, eles podem (Yes, they can!!!), o problema é que ainda porque vivemos em uma sociedade que (infelizmente!), ao mesmo tempo, supervaloriza a não-deficiência e desconsidera diversidade humana e diferenças individuais quando se trata das pessoas com deficiência.

A concepção da humanidade baseada no capacitismo perpetua uma visão de padrões incluindo o de ´normalidade´. Assim, no imaginário coletivo, ´capazes´ são somente as pessoas que chegam próximos a esses padrões de normalidade na forma de apresentação de seus corpos, sua intelectualidade, beleza e virilidade, entre outras. É exatamente por isso que as pessoas com deficiência são pressionadas a diuturnamente demostrarem que são ´capazes´.

Mas é claro que são capazes senão como seriam super-humanos/as atletas maravilhosos/as e grandes campeões/ãs ?! Assista aqui o video Resumo da Paralímpiada - Brasil 2016  

Quando acontece um evento de grande proporção como a Paralimpíadas, percebemos o quanto ainda temos que caminhar para eliminar as formas de discriminação enraizadas na concepção capacitista, o quanto ainda precisamos mudar nossas concepções limitadas sobre as pessoas com deficiência e nos abrir para um universo de aprendizagem altamente enriquecedor para nossa vida e humanidade que é possibilitado pela convivência com as pessoas com deficiência e suas famílias.