quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Jogos Paraolímpicos: os super-humanos...

Windyz Brazão Ferreira


Nós, pessoas sem deficiência somos tão limitados em termos de nosso entendimento sobre a diversidade humana que, mesmo com a vibração e a emoção que sentimos ao ver os Jogos Paralímpicos, não conseguimos mudar nossas crenças sobre as competências super-humanas das pessoas com deficiências... se elas tiverem oportunidades como qualquer outra pessoa para desenvolvê-las!!!

Triste para nós – pessoas sem deficiência - que perdemos a oportunidade de conviver, aprender e nos tornarmos melhores seres humanos porque ainda acreditamos que as pessoas com deficiência são incapazes. 

Agora, clique abaixo e se emocione assistindo ao vídeo incrível criado pelos britânicos sobre os super-humanos/as, os atletas com deficiência que dizem: - YES, We can!!! (Sim nós podemos!!!) 
Enquanto você assiste reflita se considera que poderia fazer o que esses atletas com deficiência fazem!

Há mais de 30 anos convivo direta ou indiretamente com crianças, jovens e adultos com deficiência e suas famílias, em particular suas mães – mulheres de garra e força interior.

Nesta longa jornada aprendi que pessoas com deficiência, independentemente do tipo de deficiência, são pessoas - seres humanos de muita luz que (eu acredito!) voltaram à terra para nos ajudar a nos tornarmos melhores seres humanos, mais iluminados porque se não fosse pelas pessoas com deficiência muitos movimentos, conceitos/princípios/valores e mudanças - que favoreceram também a outros grupos vulneráveis - não teriam acontecido.

Se não fosse, principalmente, pelas pessoas com deficiência...

- não teria acontecido a Conferência de Salamanca em 1994 na Espanha e a consequente publicação da Declaração de Salamanca (UNESCO 1994), que foi disseminada mundialmente,

- não haveria o movimento pela inclusão educacional, social e econômica de inúmeros outros grupos sociais que estavam invisíveis nas diretrizes internacionais e políticas nacionais no final do século passado, entre os quais, citamos, os negros, os indígenas, os ciganos, os que moram em áreas remotas e rurais, etc.,

- não teria sido criado um enorme corpo teórico (conhecimentos em vários campos científicos) sobre direitos humanos e o direito à participação de inúmeros grupos vulneráveis que devem estar incluídos nas várias esferas da vida,

- não se teria um movimento internacional sobre acessibilidade, conceito que beneficia inúmeros grupos sociais nas várias esferas da vida,

- não se teria um ampla discussão sobre a diversidade humana & as diferenças individuais que caracterizam a espécie humana e, portanto, nós todos/as teríamos menos desenvolvidas nossa humanidade, espiritualidade e mente,

- não haveria no Brasil uma Secretaria de Diversidade e Inclusão...

- não haveria a Paralímpiadas...

E, apesar de tudo, ainda acreditamos que as pessoas com deficiência são incapazes, incompetentes, não podem aprender... ainda acreditamos que as pessoas com deficiência devem participar das Olímpiadas separadamente.

Triste... muito triste!!! Será esta separação inclusiva?



Inclusão x Exclusão na Paralimpíada... o que está por traz da segregação dos jogos paralimpícos?


Jackeline Susann Souza da Silva
Universidad de Salamanca, Espanha

Tradicionalmente os jogos olímpicos, para equiparar as chances de competição, são organizados por critérios como gênero, faixa etária, peso, entre outros. A deficiência também é um critério levado em consideração na organização das competições. A grande diferença é que a deficiência é compreendida como um único critério que separa, segrega e desagrega os dois maiores eventos esportistas do mundo: Olimpíadas e Paralimpíadas.

Tradicionalmente, tal “separação” não é percebida de maneira negativa. Até aí, tudo bem! No entanto, é inegável que a Paralimpíada ainda não recebe a mesma atenção que a Olimpíada em termos de cobertura jornalística, visibilidade dos atletas e patrocínio. Inúmeras são as razões para isto acontecer.

Capacitismo

Até pouco tempo as pessoas com deficiência não eram ouvidas ou tinham oportunidades de participação na família, na educação, na comunidade, no mercado de trabalho, na vida política, etc. Embora este cenário esteja em processo de mudança (lenta) a exclusão das pessoas com deficiência ainda é, com frequência, percebida com naturalidade pela sociedade.

No entanto, esta percepção tem mudado com as conquistas de direitos e de reivindicações que tem como base os movimentos protagonizados pelas próprias pessoas com deficiência. Gradualmente, portanto, torna-se inaceitável por esta população aceitar sem protestar as posições sociais de subalternidade e de menos valia dentro das quais teimamos em colocá-las.

Mesmo com mudanças significativas, por exemplo, a conquista de um vasto marco político e legal que trata de inclusão e acessibilidade no Brasil, a cultura de capacitismo ainda é forte assim como o é o racismo e o machismo. 

Por isso, a Paralimpíadas deve constituir para nós um momento oportuno de revisão de nossas concepções negativas e capacitista sobre este grupo social cujos membros - as pessoas com deficiência - se tiverem oportunidades, chances de participação e apoio podem atingir mais realizações do qualquer um de nós já atingiu. 

Sim, eles podem (Yes, they can!!!), o problema é que ainda porque vivemos em uma sociedade que (infelizmente!), ao mesmo tempo, supervaloriza a não-deficiência e desconsidera diversidade humana e diferenças individuais quando se trata das pessoas com deficiência.

A concepção da humanidade baseada no capacitismo perpetua uma visão de padrões incluindo o de ´normalidade´. Assim, no imaginário coletivo, ´capazes´ são somente as pessoas que chegam próximos a esses padrões de normalidade na forma de apresentação de seus corpos, sua intelectualidade, beleza e virilidade, entre outras. É exatamente por isso que as pessoas com deficiência são pressionadas a diuturnamente demostrarem que são ´capazes´.

Mas é claro que são capazes senão como seriam super-humanos/as atletas maravilhosos/as e grandes campeões/ãs ?! Assista aqui o video Resumo da Paralímpiada - Brasil 2016  

Quando acontece um evento de grande proporção como a Paralimpíadas, percebemos o quanto ainda temos que caminhar para eliminar as formas de discriminação enraizadas na concepção capacitista, o quanto ainda precisamos mudar nossas concepções limitadas sobre as pessoas com deficiência e nos abrir para um universo de aprendizagem altamente enriquecedor para nossa vida e humanidade que é possibilitado pela convivência com as pessoas com deficiência e suas famílias.


Um comentário:

  1. Excelente reflexão. Podemos dizer que a maior deficiência da humanidade é a de ordem moral que cerceia os sentidos para convivência em condições equânimes de toda diversidade humana..

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