Já apresentamos neste Blog histórias de pessoas com diagnosticadas com Autismo. Dentre as histórias narradas, chama atenção o caso de Carly Fleischmann, uma jovem canadense, que desde muito cedo teve que enfrentar os conflitos de viver em uma sociedade que não compreende seu modo de ser e estar no mundo.
Conheça um pouco da história de Carly acessando ao vídeo abaixo:
Carly tem uma irmã gêmea e isso de certa forma foi um dos 'motivos' para comparar o seu desenvolvimento cognitivo e social a um possível padrão normal. Desde os dois anos de idade, diferentemente da sua irmã, ela foi diagnosticada com "autismo severo". O diagnóstico foi reforçado pelo seu comportamento, por estar sempre alheia ao mundo, não falar, não interagir com os familiares, profissionais e pessoas próximas e por, muitas vezes, se espancar e meter a cabeça contra a parede.
Desde a infância seus país submetia Carly a intensos tratamentos de reabilitação e educação especial, na expectativa de verem alguma melhora em seu caso tão grave. Mas, poucos foram os resultados...
Até que, aproximadamente aos 11 de idade, Carly surpreendeu a família ao escrever a palavra DOR, seguida de SOCORRO em um computador e logo após, vomitar. Seus pais ficaram incrédulos, sem saber como ela sabia ler e escrever, se até então, nunca tinha demonstrado nenhuma dessas habilidades.
Carly Hoje
Após vários estímulos da família e profissionais para Carly usar o computador, hoje esta é uma das suas principais ferramentas de interação. Ela usa uma conta no Twitter e outra no Facebook para descrever sobre sua perspectiva o que é viver com o autismo.
Carly é incisiva e segura quando questiona as pessoas que tentam conceituar o autismo de maneira errônea, limitada e irrealista. Em 2011, ela lançou uma biografia intitulada "Carly's Voice".
O Que aprendemos com Carly?
Sem dúvidas uma das lições de vida da história de Carly Fleischmann é que não podemos rotular uma pessoa por causa de um diagnóstico. O rótulo é uma narrativa que tenta encaixar a pessoa a padrões de comportamento pré-definidos. Na lógica da rotulação, as pessoas tenderiam a ter maneiras iguais de se comportar, de aprender, de comunicar. Aquelas pessoas que fogem do padrão são consideradas desviantes/problemáticas/doentes, devendo, portanto, sofrer intervenções para atingir o estado de 'normalidade'.
Contrariando esta visão, a história de Carly mostra que cada ser humano é singular. Ela mesma é um exemplo disto, mesmo com uma irmã gêmea, tem uma maneira própria de estar no mundo. Não por causa do autismo, mas porque como cada um de nós ela é uma outra pessoa, com outras expectativas, com outra maneira de pensar e de expressar suas preferências e inquietações.
A deficiência é uma experiência, não somente uma marca no corpo ou mente. É uma experiência particular, vivenciada por diferentes pessoas. Neste caso, como destaca a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006) a PESSOA é que deve ser reconhecia e ter visibilidade maior do que sua deficiência. Quando a pessoa é vista, a deficiência é percebida como mais uma característica da sua identidade como o gênero, a classe social, a etnia. Quando a pessoa é percebida mais que sua deficiência, ela pode narrar como é para ela a experiência particular de vivência com a deficiência (qual o tipo de acessibilidade é mais conveniente; qual grupo social ela se sente representada; quais barreiras são mais urgentes, etc.).
Carly tem autismo e aprendeu sozinha a usar o computador. Uma outra criança ou jovem com autismo não necessariamente necessita usar esse recurso para comunicar-se, mas qualquer outro que ela se sinta contemplada.
Fica a mensagem: limpar a lente pela qual percebemos o mundo, é o primeiro passo para conhecermos as pessoas como elas são verdadeiramente.
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