Síndrome de
Down não muda comportamentos ligados ao aprendizado
Estudo indica que alunos com Down são capazes de
realizar as mesmas atividades que as outras crianças no ambiente escolar
Foto: arquivo da ONG Ed-Tod@s (ongedtodas.wixsite.com/indaiatuba) Campanha sobre os Direitos da Pessoa com Síndrome de Down. 2017.
Crianças com síndrome de Down têm comportamentos que envolvem cognição
similares aos das outras crianças; o que muda é a frequência com que
executam tais ações
Pesquisa realizada na Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP sugere que, apesar de precisar de
mais apoio de colegas e professores, crianças com síndrome de Down podem
realizar as mesmas atividades escolares que as demais. Os resultados
evidenciam que elas são tão capazes quanto os outros alunos de
realizar ações que envolvem os aspectos cognitivos, como pensamento, linguagem,
percepção, memória e raciocínio.
De forma geral, as
conclusões do estudo apontam que crianças com Down têm comportamentos
similares às outras crianças. O que muda é a frequência desses comportamentos,
ou seja, a quantidade de vezes que cada um dos grupos executa determinada ação.
Nas crianças com Down essa frequência é menor. O ato de observar, por
exemplo, que envolve atenção e está diretamente ligado à aprendizagem, é muito
presente em todas as crianças, embora seja mais realizado por aquelas com
desenvolvimento típico, isto é, que apresentam desenvolvimento dos aspectos
biológicos, emocionais e sociais de acordo com o esperado para a idade.
Além
desse, outros comportamentos que tiveram muitas semelhanças entre os dois
grupos foram os de imitar, brincar de faz de conta (brincadeiras que envolvem a
imaginação, o fantasiar ou simular outra realidade) e receber auxílio verbal de
outras crianças. No entanto, esse aspecto merece atenção, segundo a terapeuta ocupacional
responsável pela pesquisa, Patrícia Páfaro Gomes Anhão, uma vez que as
atividades de faz de conta e imitação foram pouco realizadas pelos dois grupos
de crianças. “Isso pode indicar a baixa realização deste tipo de brincadeira no
ambiente de educação infantil, podendo sugerir que o brincar de faz de conta
vem sendo pouco estimulado”, alerta Patrícia. Para ela, a ausência do brincar
de faz de conta pode levar a problemas de aprendizagem, restrições na
participação social e na interação com pares.
Necessidade
de apoio
Na
análise dos resultados da pesquisa também foi possível identificar que os
alunos com Down precisam de maior apoio dos colegas e, principalmente, dos
professores. Segundo a pesquisadora, isso acontece por conta da dificuldade
psicomotora dessas crianças, que é a habilidade de controlar os movimentos
corporais regidos pela mente. Outro motivo para essa dependência, de acordo com
a pesquisadora, é a falta de adequação das escolas, que deveriam fornecer
auxílios necessários e adaptações pertinentes a essa população, facilitando,
assim, a realização de todas as tarefas solicitadas no ambiente escolar.
Patrícia Páfaro Gomes Anhão: programa mais eficiente de consultoria dos
profissionais da saúde ajudaria escola a se tornar mais inclusiva.
A
pesquisa foi feita com 14 crianças, sendo sete com síndrome de Down e sete com
desenvolvimento típico, com idade entre 4 e 6 anos, que estão inseridas no
ensino público da cidade de Ribeirão Preto. No ambiente escolar, cada criança
foi filmada por 180 minutos desempenhando atividades em sala de aula,
refeitório, parque e sala de brinquedos. As imagens foram analisadas para
identificar a frequência dos comportamentos realizados em cada um dos
ambientes.
Escola
inclusiva
Para
a pesquisadora, é necessário encontrar estratégias para melhor recepcionar os
estudantes com síndrome de Down, e a interação com outras áreas do
conhecimento é um bom começo. “Percebo que os atendimentos clínicos voltados a
essas crianças quase nunca trabalham junto com a prestação de atendimentos
educacionais. Desta maneira, o cuidado à criança com Down fica
desarticulado. Talvez um programa mais eficiente de consultoria dos
profissionais da saúde, não só terapeutas ocupacionais, como também fisioterapeutas,
fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais e até mesmo professores da
educação especial, seja importante para que a escola se torne cada
vez mais inclusiva.”
Patrícia
afirma, ainda, que os resultados deste estudo, embora feito com alunos com síndrome
de Down, podem se aplicar a todas as crianças que estejam apresentando
problemas de aprendizagem. “Muitas vezes essas crianças não são ouvidas apenas
por não serem diagnosticadas com alguma deficiência. Mas elas sofrem as mesmas
angústias de não terem atendidas suas necessidades dentro do ambiente escolar”,
completa.
A
tese Análise do desempenho de crianças com síndrome de Down no ambiente
escolar foi defendida na EERP em junho deste ano e orientada pela
professora Luzia Iara Pfeifer.
Mais
informações: e-mail pganhao@terra.com.br
Referência
Por Stella Arengheri - Editorias: Ciências da Saúde
– Foto: Cantinho da Prof. Ivani Gularte/Reprodução
http://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/sindrome-de-down-nao-muda-comportamentos-ligados-ao-aprendizado/
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