quarta-feira, 4 de maio de 2016

"Yes, We Fuck!" Documentário Espanhol aborda de maneira livre a sexualidade de pessoas com diversidade funcional

Jackeline Susann Souza da Silva
Windyz Brazão Ferreira

Hoje foi exibido no Salão de Atos da Faculdade de Educação da Universidad de Salamanca (Espanha) o documentário "Yes, We Fuck!" de direção e produção de Antonio Centeno e Raúl de la Morena. Este documentário traz de maneira ousada, direta e, sobretudo, política o tema da sexualidade de pessoas com "diversidade funcional", as ditas "pessoas com deficiência".


Quem disse que pessoas com deficiência não têm vida sexual, são assexuados ou estão impossibilitados de de ter uma transa prazerosa como qualquer outra pessoa? De onde vem este mito?

Antonio Centeno, principal idealizador deste projeto, lidera uma turnê para exibição do documentário em diversas universidades e instituições europeias. Ele é usuário de cadeiras de rodas e ativista do movimento Vida Independente, No Brasil, visite o site Rede MVI-Brasil e assista no Youtube o Vídeo Centro de Vida Independente do Rio de Janeiro . 

Em sua exposição, o diretor Antonio Centeno deixou evidente que o principal propósito deste projeto é "sexualizar a pessoa com diversidade funcional para dar visibilidade a sua sexualidade e independência. Sexo é uma posição política". 

Para o diretor, a visão infantilizada que a sociedade ainda mantém da pessoa com deficiência busca na biologia a justificativa para a suposta "dependência natural", reforçando que, assim, como as crianças, as pessoas com deficiência não têm capacidade de viver sua sexualidade. "Nossos corpos não são nossos. Somos anulados como pessoa. O sistema jurídico nos incapacita de decidirmos sobre nossa vida, transferindo esse poder para a família" (Antonio Centeno).

Mais do que provocar impacto no grupo das pessoas com deficiência, o documentário traz uma nova visão sobre a sexualidade humana ao questionar os padrões de corpos e de desejos sexuais, ambos refletidos como construções sociais e publicitárias. Para isso, o documentário rompe com o isolamento da discussão sobre deficiência ao buscar "cumplicidade política com grupos que trabalham com o corpo" e abrir o diálogo interseccional entre pessoas com diversidade funcional e feministas, transfeministas, LGBTs, grupos intersex, entre outros grupos.

Os/as protagonistas do documentário são as próprias pessoas com deficiência que definem o que representa sexo para elas. Ganha destaque também a fala de profissionais do sexo, de assistentes sexuais, de pais e mães e de parceiros sexuais. Ao longo do vídeo, há cenas de sexo, mostrando a experiência real de várias pessoas com diversidade funcional. Por causa das cenas explícitas, o documentário já sofreu censura nas redes sociais.

Antonio complementa que, "essas são cenas de sexos entre pessoas com um grande compromisso político. Ninguém é menos capaz que ninguém. E é isto o que representa "Yes, We Fuck!". Não queríamos fazer um documentário sobre gente rara fazendo coisas raras. A ideia era colocar em foco as questões fundamentais que afetam todo mundo". 

A respeito de como vamos abordar essas novas maneiras de perceber e experienciar a sexualidade com as futuras gerações, Antonio deixou a seguinte provocação: 

"Este documentário não é educativo. Ele é deseducativo (se referindo à desconstrução da normalidade dos corpos para exercer a sexualidade). Antes de trabalhar a sexualidade do outro, precisamos trabalhar a nossa própria sexualidade. (...) É preciso gerar novas dinâmicas, espaços, maneiras. É necessário permitir convivências".

Assista ao documentário e a outros vídeos, acessando a página do projeto 
http://www.yeswefuck.org/


No Brasil, o Ministério da Saúde publicou em 2009 o Documento a seguir que pode ser acessado no link:
Direitos Sexuais e Reprodutivos na Integralidade da Atenção à Saúde da Pessoas com Deficiencia


De acordo com este documento brasileiro "os direitos sexuais e os direitos reprodutivos nascem a partir da definição de saúde reprodutiva, buscando interagir os direitos sociais (principalmente o direito à saúde, à educação, à informação correta e em linguagem adequada), com os direitos individuais de não interferência e de não discriminação. (BRASIL, 2007). 


2.4.1 Direitos Sexuais

• Direito de viver e expressar livremente a sexualidade sem violência, discriminações e imposições e com respeito pleno pelo corpo do (a) parceiro (a)
• Direito de escolher o (a) parceiro (a) sexual
• Direito de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa e falsas crenças
• Direito de viver a sexualidade independentemente de estado civil, idade ou condição física
• Direito de escolher se quer ou não quer ter relação sexual
• Direito de expressar livremente sua orientação sexual: heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade, entre outras
• Direito de ter relação sexual independente da reprodução
• Direito ao sexo seguro para prevenção da gravidez indesejada e de DST/HIV/Aids
• Direito a serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e atendimento de qualidade e sem discriminação
• Direito à informação e à educação sexual e reprodutiva

2.4.2 Direitos reprodutivos

• Direito das pessoas decidirem, de forma livre e responsável, se querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas
• Direito a informações, meios, métodos e técnicas para ter ou não ter filhos
• Direito de exercer a sexualidade e a reprodução livre de discriminação, imposição e violência
(MS, 2009, pp.32-33)

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