Windyz Brazão Ferreira
Meu envolvimento com a causa da pessoa surdacega é recente.
Tenho contato próximo com uma família paraibana que tem um
filho de 24 anos surdocego e diagnosticado como ´autista´ (não sei como...). Conheci
há pouco o colega Wolney Gomes Almeida, que defendeu sua tese de Doutorado O Guia-Intérprete e a Inclusão da Pessoa com Surdocegueira (2015) na Universidade Federal da Bahia e, mais recentemente, tive a oportunidade de
me aproximar do Alex Garcia, por causa da bengala para surdocego que ele queria
adquirir de uma organização espanhola. Eu estava em Salamanca e me coloquei à disposição para comprar e trazer a bengala para o Brasil.
Enfim, o que quero dizer é que minha incursão nesta área era (e
ainda é) muito superficial como, certamente, ocorre com a maioria de nós comprometidxs
com a inclusão da pessoa com deficiência.
Consciente desta limitação na minha ação como acadêmica e
militante na área de Direitos da Pessoa com Deficiência, compreendi que deveria
fazer algo nessa direção. Assim fui atrás de informações e sistematizei um
pouco desse conhecimento a seguir:
Estudos
e literatura sobre surdocegueira são muito escassos no Brasil...
Cito a seguir uma parte da tese do professor Wolney G.
Almeida (2015), da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC que evidencia a
necessidade de estudos e publicações de qualidade na área de surdocegueira:
´A surdocegueira tem se apresentado como um tema ainda pouco explorado na literatura especializada brasileira, quando comparada aos outros tipos de deficiências. Durante muito tempo, a perda sensorial da visão e audição, concomitantemente, caracterizou-se a partir dos aspectos da múltipla deficiência e não a partir da compreensão de uma deficiência específica, com características e especificidades peculiares. Segundo Bertone & Ferioli (1995), há informações sobre um levantamento de pessoas com deficiências visuais e que apresentam outra deficiência concomitante, estimando-se um total de 135 indivíduos apenas nos países latino americanos. Estudos realizados pelo Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial, mostra um número de 783 pessoas surdocegas identificadas até o momento. (ALMEIDA, 2015, p. 26)´
Alex Garcia me enviou um email com seu texto sobre a ´Surdocegueira
Didática´, com o objetivo de nos ajudar – acadêmicos - a compreender, de forma
incipiente, o que é esta condição humana que ainda requer a produção e
disseminação de muito conhecimento e informações:
Surdocegueira Didática
Em Surdocegueira devem ter claro
algumas questões específicas e básicas. Primeiro vocês devem saber quem são os
surdocegos: são 2 grupos. (1) surdocegos pré-simbólicos e (2) surdocego
pós-sombólico.
(1) Os
surdoscegos pré-simbólicos são os que adquiriram a Surdocegueira antes da
estruturação da língua - didaticamente são os surdocegos congênitos. (leia mais sobre este tipo de surdocegueira
clicando aqui http://www.agapasm.com.br/artigo004.asp
(2) Os
surdocegos pós-simbólicos são os que adquiriram a surdocegueira depois da
estruturação da língua - didaticamente são os surdocegos adquiridos.
Classificação:
· - Cego com baixa audição
· - Surdo com baixa visão
· - Baixa visão e baixa audição
· - Surdocegos totais
Os surdo com baixa visão, os cego
com baixa audição, e aqueles com baixa visão e baixa audição, são extremamente
"invisíveis" na sociedade. Estes casos "empurram e são obrigados
a empurrar com a barriga" a questão até chegarem ao ponto extremo - e
"empurrando" perdem precioso tempo para aprender e se desenvolver e
agora no "extremo", a vida é bem mais complexa. São mais ou menos
estes, os surdocegos. Isso quer dizer que nem sempre é total a escuridão e
total o silêncio. Podem haver resíduos, mesmo que baixos. Muitos são
assim, com resíduos, mas escolheram fugir do problema e, fugindo, eles entraram
no buraco. O ideal é enfrentar o problema e ir se adaptando continuamente.
Conceito de surdocego:
O surdocego é aquela pessoa que
não compensa um sentido pelo outro. O que quero dizer com isso? Vejamos um
cego, como ele compensa a cegueira? O cego compensa a cegueira porque ele
escuta perfeitamente bem. Como um surdo compensa a surdez? Ele compensa a
surdez porque enxerga perfeitamente bem. E como faz o surdocego para compensar
a surdez e a cegueira? É aí que está toda a questão, na compensação. Embora o
surdocego possa ter resíduos, estes não compensam a perda do outro sentido em
sua totalidade. Por exemplo, um cego com resíduo auditivo tem falhas na
compensação. Um surdo com resíduo visual tem falhas na compensação. Uma pessoa
que tem resíduo auditivo e resíduo visual tem falhas na compensação.
Isso é ser uma pessoa surdocega. Mas, em nosso
país isso raramente é visto, é levado em conta. Vocês podem refletir que temos
milhões de surdocegos no Brasil. Mas, nem mesmo estas pessoas sabem que são
surdocegas. É uma situação muito complicada a que vivemos no Brasil. Situação
que se agrava pela inexistência de Politicas Públicas que colaborem com nosso
desenvolvimento.
(Msg recebido por email no dia 22/06/2016.)
Uma vez apresentado estas
informações relevantes, fui buscar dados sobre o que acontece
internacionalmente com relação às pessoas surdocegas. Encontrei um doc do Banco
Mundial sobre a
The World Federation of the Deafblind
The World Federation of Deafblind People (Federação Mundial de Surdocegos), fundada em 2001 e é
´uma ONG mundial sem fins lucrativos. [Hoje possui 75
organizações filiadas de 62 países - http://wfdb.eu.sitebuilder.loopia.com/about-wfdb
) É uma organisação de pessoas surdocegas e a voz legitima das pessoas
surdocegas no mundo. O trabalho para as pessoas surdacegas ainda é incipiente e
somente durante os últimos 10-15 anos que este grupo social teve sucesso em criar um perfil único e apreciar o crescent entendimento
dos problemas específicos que resultam da surdocegueira.
O objetivo da FMSC é melhorar mundialmente a
qualidade de vida das pessoas surdocegas e, uma das atividades mais importantes
assumida pela Federação é a identificação das pessoas surdocegas a fim de
quebrar seu isolamento.
A Federação também tem como objetivo disseminar
informações sobre sudocegueira e sobre serviços que estas pessoas necessitam a
fim de terem uma vida independente. Adicona-se a estes objetivos a luta da
Federação por conseguir que a surdocegueira seja reconhecida internacionalmente
como uma deficiência única.´
Contato com a World
Federation of Deafblind People
President: Geir Jensen c/o FNDB
Sporveisgata 10 N-0354 Oslo Norway (Noruega)
Phone +47 22 93 33 50+47 22 93 33 50
Fax +47 22 93 33 51 E-mail geir.jensen@fndb.no
Fax +47 22 93 33 51 E-mail geir.jensen@fndb.no
E, no Brasil, o que está acontecendo com a
população de pessoas surdocegas?
De acordo com o site do
Planeta Educação, um breve histórico do movimento das pessoas surdocegas é
apresentado por Alex Garcia
‘Nosso tempo permite um
breve relato desta história. A primeira criança Surdocega que foi
educada com sucesso foi Laura Bridgman que entrou no Instituto Perkins1 (EUA)
em 1837. Mas ainda, mais afável experiência foi proporcionada à
humanidade por Anne Sullivan, professora surda e não menos notável aluna Helen
Keller2 que estudou na Perkins por muitos anos. Como podemos notar, a Educação
Surdocegos nasceu nos EUA, consequentemente, hoje em dia, há mais portadores de
Surdocegueira sendo educados e reabilitados neste país que no restante do mundo.
De acordo com Kenmore
(1977), os programas para Educação de Surdocegos na Europa tiveram seu início
na França (1884), seguindo-se na Alemanha (1887) e Finlândia (1889). Convém
destacar que, em cada um destes locais, o número de alunos era muito pequeno.
Em 1977, foram catalogados apenas 350 Surdocegos em atendimento em 13 países.
A História da Surdocegueira
no Brasil tem início em 1953 com a visita da já mundialmente conhecida Helen
Keller (Soares, 1999). Esta visita sensibilizou uma grande personalidade, que
anos mais tardes seria nacionalmente conhecida por seus esforços. Trata-se
da Educadora Nice Tonhozi Saraiva. Saraiva, já trabalhando na Educação de cegos
no Instituto de Cegos “Padre Chico” em São Paulo dedicou-se também a Educação
de Surdocegos a partir de 1962 quando tão logo voltou dos EUA. Ainda em
1962, fundou a SEADAV – Serviço de Atendimento ao Deficiente Audiovisual. Em
1963, por intervenção do estado a SEADAV foi transferida de São Paulo para São
Bernardo do Campo. Em 1968, a SEADAV passou a se chamar ERDAV – Escola
Residencial para Deficientes Audiovisuais. Em 1977, para garantir maior
autonomia da escola, foi novamente alterada e passa a ser chamada de FUMAS –
Fundação Municipal Anne Sullivan, que ficou sendo a mantenedora da Escola de
Educação Especial Anne Sullivan, que funciona até os dias de hoje. 1 -
Instituto Perkins para cegos, Waltertown, Massachusetts, EUA. 2 -
Keller, considerada nos tempos atuais a mais surpreendente Surdacega de todos
os tempos.
Clique aqui para acessar
o texto na íntegra. Leia princípios orientadores para a educação de surdocegos ou vá direto no site da Agaspam
Organizações
e Sites sobre Surdocegueira
Contatos telefônicos:
Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial:
(11) 5579.5438 ou 5579.0032. (São Paulo)
(11) 5579.5438 ou 5579.0032. (São Paulo)
Abrasc: (11) 3342.2108 (São Paulo)
Adefav: (11) 3342.2108 (São Paulo)
Ahimsa: (11) 5579.5438 (São Paulo)
Abrapascem: (11) 5083.2721 (São Paulo)
Escola Anne Sullivan: (11) 4220.3638 (São Paulo)
Instituto Benjamin Constant: (21) 2295.2543 (Rio de Janeiro)
Centrau: (41) 345.9844 (Paraná)
Agaspam (51) 33521519 (Rio Grande do Sul)
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