Windyz Brazão Ferreira, PhD
Para acessar o texto na íntegra, clique em:
: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/revistainclusao1.pdf
: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/revistainclusao1.pdf
Hoje, as expressões educação inclusiva,
inclusão, necessidades especiais, fracasso escolar, evasão, formação de
professoras, gestão participativa, projetos educacionais, e muitas outras fazem
parte de nosso dia a dia trabalhando no sistema educacional brasileiro. Aonde
quer que eu vá, seja em São Paulo a maior e mais rica cidade do Brasil ou seja
no sertão Pernambucano, escuto sempre as mesmas preocupações, os mesmos dilemas
e os mesmos desafios. Poderia dizer também escuto as mesmas queixas e
dúvidas...
(Gestores) A escola não
possui professores ou recursos especializados... desculpe...
(Gestores) Nós não temos
classes especiais e nossos professores não estão preparados para receber
crianças com deficiência. NÃO podemos aceitá-lo...
(Gestores e professores) Eu
não sou contra a inclusão... mas como receber uma criança com deficiência numa
sala com mais de 40 crianças???
(Professores) Eu entendo e
concordo que todas as crianças têm os mesmos direitos à educação, mas como eu
vou dar conta de todos os meus aluno(a) e ainda dar ‘atenção’ e cuidar de uma
criança com deficiência?
(Professores) Eu não estou
‘preparada’ para receber uma criança ‘especial’ na minha sala de aula?
(Gestores e professores)
Criança com necessidade especial? Ah! Sim, temos uma professora que é
maravilhosa. Ela adora estas crianças e aceita ficar com elas na sua classe...
Acredito que todas essas falas aqui mencionadas
tenham eco no âmbito da experiência de todos os aqui presentes... Afinal, como
tenho ouvido de muitos educadores. Gestores, e até mesmo de pessoas com
deficiência, pessoas que trabalham na área de educação especial, pais etc.
‘ não é justo que uma
criança com deficiência seja matriculada em uma escola onde ela não será
aceita, na qual os professores não estão preparados para recebê-las e onde não
há recursos para responder às suas necessidades!’
Agora queria convidar vocês a dirigirem seu
olhar para outro aspecto da vida escolar.
Vamos falar um pouco das crianças que não têm deficiência...
Nas minhas andanças pelas escolas brasileiras
de vários estados - quando sou convidada para falar sobre educação inclusiva ou
coordenar algum projeto sobre abordagens de ensino inclusivas, tenho também
escutado professores e gestores falando sobre outros problemas que afetam a
comunidade escolar, os quais envolvem estórias de violência, prostituição,
tráfico de droga, assassinatos, brigas, medos, etc. O medo é muito grande e as estórias são as
vezes assustadoras... Tendo como pano de
fundo este tipo de problemas comunitários, é comum eu ouvir os seguintes
depoimentos:
Imagine, eu sou professora
de 4ª. Série e muitos de meus alunos(a) ainda não sabem ler! Não é fácil...
Como meu(s) aluno(s)
pode(m) aprender se vivem naquele ambiente horrível? A comunidade onde esta
escola está inserida é muito pobre e aqui acontecem coisas horríveis. Há muita
violência, os pais são embriagados e as mães muitas vezes prostitutas... estas
crianças não têm como aprender ou ser apoiado em seus estudos nestas condições.
Eu queria fazer uma
revisão... quando perguntei o que eles sabiam sobre o que tinha ensina por um
semestre, os alunos me deram os tópicos do programa da disciplina. Quando
perguntei o que tinham aprendido, eles
responderam: Nada. E quando perguntei o que queriam aprender... disseram
novamente: nada. Chamei meu pai... Descobri que tudo o que eu ensinei para
minha turma de 5ª. série não tinha sido aprendido.
Você tem idéia do que seja
dar aula por aqui?! A gente vive aterrorizado com a violência local e, estas
crianças não têm valores ou respeito ao outro. Como vão aprender a se comportar
na sala de aula? Como vão entender a importância da educação para as suas
vidas?
Imagine que meu aluno um
dia me disse: porque vou perder meu tempo com a escola se meu pai nunca estudou
e ganha muito bem com o tráfico de drogas?
Em meio a tantas restrições baseadas na forte
crença no despreparo da escola e da professora para receber uma criança com
deficiência e os problemas sociais que afetam a população que tem tentado
sobreviver às desigualdades sócio-econômicas. Eu pergunto:
§ Quem na
sua escola tem necessidades especiais?
§ Quem
é uma criança com deficiência?
§ O que
é deficiência e o que é ser ‘deficiente’?
§ Qual é a diferença entre necessidades
educacionais que foram geradas por uma deficiência ou necessidades educacionais
que foram geradas por uma deficiência social e econômica?
Qual é a diferença real entre crianças com
deficiência não têm acesso à escola ou discriminadas na sala de aula e crianças
sem deficiência que fracassam na escola, se evadem e são marginalizadas
socialmente? Qual é a diferença real se ambas são excluídas e têm violado seu
direito fundamental à educação? A
Educação Inclusiva tenta ser uma resposta a tantas indagações...
A Educação Inclusiva como resposta as Necessidades Especiais de todas as crianças
A Educação Inclusiva foi criada e tem crescido
no mundo inteiro com base no pressuposto de que TODA criança tem direito à
educação de qualidade e de que, portanto, os sistemas educacionais têm que
mudar para poder responder a estas necessidades. Na educação inclusiva defendemos que TODAS as
crianças SÃO ESPECIAIS e, por isso mesmo, devem receber o que a escola tem de melhor – em
outras palavras todas as escolas devem ser especiais. Como crianças especiais,
TODAS têm direito de acesso à educação e de conviver com as crianças de seu
próprio bairro, seus irmãos, seus colegas, seus pais ou familiares e TODAS
merecem nossa atenção, cuidado e aperfeiçoamento.
A Educação Inclusiva, portanto, não diz
respeito somente às crianças com deficiência – cuja grande maioria ainda permanece
fora das escolas porque nós nem tentamos aceitá-las – mas diz respeito a todas
as crianças que enfrentam barreiras: barreiras de acesso à escolarização ou
barreiras de acesso ao currículo, barreira essa que leva ao fracasso escolar e
a exclusão social. Na verdade, são essas barreiras que são nossas grandes
inimigas e são estas barreiras que devem ser foco de nossa atenção para que
possamos identificá-las, entendê-las e combatê-las.
Embora aqui, nossa atenção esteja centrada na
realidade educacional brasileira, a realidade da exclusão educacional dos
chamados ‘grupos sociais vulneráveis ou grupos de risco’ é uma realidade
mundial que também afeta os grupos que vivem em situação de desvantagem nos
países ricos. Grupos sociais em risco de
exclusão se referem a menino(a) e jovens que vivem nas ruas, crianças que
sofrem maus-tratos e violência doméstica, crianças e jovens com deficiência,
meninas que são levadas a se prostituírem, crianças e jovens com o vírus do
HIV/AIDS, com câncer ou outra doença terminal, crianças e jovens que estão em
conflito com a lei, crianças negras e indígenas e outros grupos que, por razões
distintas, sejam produto da desigualdade social e econômica e, principalmente,
sejam objeto de discriminação e preconceito dentro e fora das escolas.
São exatamente estes grupos sociais que estão
no coração da educação inclusiva, que se caracteriza como um movimento em defesa
da escola de qualidade para todos, nas quais todos – gestores, professores,
alunos, técnicos, profissionais, comunidade – estejam comprometidos com a
melhoria da escola para todos os membros da comunidade escolar e a valorização
de todos através do desenvolvimento pessoal e profissional.
O movimento da Educação
Inclusiva no mundo
Mundialmente A atenção que tem sido dada ao
sistema educacional como um todo tem crescido significativamente após a
publicação da Declaração Mundial de Educação para Todos e Diretrizes de Ação
para o Encontro das Necessidades Básicas de Aprendizagem (Jomtien, Tailândia)
em 1990, que declara que:
'todas as pessoas têm o direito
fundamental a Educação' [e que a educação para todos] representa um consenso
mundial de uma visão muito mais abrangente de educação básica, assim como
representa um renovado compromisso para assegurar que as necessidades básicas
de aprendizagem de todas as crianças, jovens ou adultos serão encontradas
efetivamente em todos os paises." (Haddad, Prefácio, 1990)
O movimento da Educação
para Todos introduziu nas agendas governamentais de todos os países temas tais
como a necessidade de melhoria da gestão com vistas ao desenvolvimento escolar,
a importância de se investir na formação de professores, a relação entre a o
ensino, a aprendizagem e a diversidade humana existente nas salas de aula.
Todos estes temas estão diretamente relacionados à mudanças pelas quais a
escola deve passar para responder às necessidades básicas de aprendizagem de
todas as crianças. Como sabemos, estes temas têm sido constante foco de debate,
estudos e projetos científicos e os Cadernos
EducAção da SME é somente um exemplo de reflexo deste movimento.
Na mesma linha de busca de
respostas à diversidade humana existente nas escolas e procurando reforçar o
compromisso com a Educação para Todos, a Declaração
de Salamanca, Princípios, Política e Pratica em Necessidades Educacionais
Especiais [1], PUBLICADA EM 1994,
defende o
"
princípio da Inclusão através do reconhecimento da necessidade de ir ao
encontro da 'escola para todos' - que são instituições que incluem todas as
pessoas, celebram as diferenças, apóiam a aprendizagem e respondem
adequadamente as necessidades individuais. Assim, estas instituições
constituem-se uma importante contribuição para a tarefa de adquirir Educação
para Todos e para fazer escolas educacionalmente mais efetivas."
(Mayor,1994,p.iii-iv).
Apesar do intenso debate
sobre a necessidade urgente de transformação do sistema regular de ensino em um
ambiente mais inclusivo, justo e mais democrático, as resistências ainda são
muitas e, conseqüentemente, o progresso em direção a escolas mais inclusivas
ainda é insignificante. Mas o que seriam estas ´tais´ de escolas inclusivas?
Escolas Inclusivas são escolas
que devem levar em conta TODAS as crianças e suas necessidades educacionais,
pessoais, emocionais, familiares, etc.
Uma escola inclusiva deve ser humanística, no sentido de assumir a
criança e o jovem como sua finalidade primeira e última. Uma escola inclusiva não pode somente se
referir a um grupo social em desvantagem e excluído (mais freqüentemente
conhecido como o grupo das crianças com deficiência), mas deve ao invés disso
se comprometer e lutar pelo direito de todos aqueles que vivem em situação de
risco como resultado de uma sociedade injusta e desigual que privilegia os que
têm em detrimento daqueles que nada possuem.
Na minha jornada pessoal e
profissional, tenho visto muitos professores(a)s sem recursos materiais algum e
que possuem, sem dúvida, um coração inclusivo.
Mas estes ainda me parecem poucos diante do exército de professore(a)s
que ainda acreditam que as escolas somente servem para os que são mais
afortunados, possuem famílias estruturadas ou que são intelectualmente mais
preparados. A professora com um coração inclusivo, independentemente das
condições existenciais precárias de seus alunos, busca com sua ação pedagógica criar
igualdade e oportunidades parta combater a desigualdade existente na sociedade.
Esta professora terá, contudo, uma atenção profissional especial àqueles que
são massacrados pelas condições em que vivem.
Será que todos nós não poderíamos tentar fazer parte de um movimento que
busca a igualdade de oportunidades que nós gostaríamos de ver para os nossos
próprios filhos?
O movimento pelas escolas
inclusivas tem como principal objetivo romper com as práticas didático-pedagógica
autoritárias e alienantes, que não reconhece o papel fundamental do aluno(a) no
processo ensino-aprendizagem. As práticas que aprendemos nas universidades ou
no dia a dia das escolas são práticas que vêem o aluno(a) como um mero
recipiente de conhecimentos e não reconhecem a experiência e os conhecimentos
que o aluno já possui. Desta forma, tais práticas não promovem a autonomia na
aprendizagem ou parceria para a construção do conhecimento. A escola que conhecemos quer sim controlar o
estudante, amordaçá-lo e silenciá-lo. É muito comum ouvir professores dizendo
que ‘não tem como controlar a turma.’ Mas será que o controle é a resposta a este
novo aluno(a)? Eu acredito que a escola que aí está não reconhece no estudante
um sujeito de sua história e,
portanto, lhe nega o
direito à contribuir na construção de sua cidadania, por isso os estudantes
reagem e provocam sérios conflitos de poder dentro das escolas.
Tendo identificado alguns dilemas no âmbito de nosso sistema educacional
e nossas escolas, vamos agora voltar nosso olhar para o conceito de inclusão.
Este é um conceito que está ainda sendo construído: no mundo inteiro podemos
encontrar diferentes definições em diferentes lugares. Por não haver ainda uma
clareza conceitual, falar sobre educação inclusiva gera desacordos e
divergências, as quais por sua vez, criam turbulências nas escolas:
desentendimentos, resistências, às vezes rachas e fofocas... Enfim, uma série
de conflitos que com certeza não fazem bem para nenhum dos membros escolares e
também não levam a lugar nenhum. Assim, vamos olhar para este conceito à
distância e vamos refletir juntos sobre o que há de consensual entre os autores
que já o definiram.
O conceito de inclusão
Inclusão é um termo que tem sido usado predominantemente como sinônimo
para integração de alunos portadores de deficiência no ensino regular
denotando, desta forma a perpetuação da vinculação deste conceito com a educação
especial. Contudo, mesmo com muitas controvérsias quanto ao seu significado, já
existem alguns pressupostos consensuais que estão subjacentes à sua
definição.
Existe um consenso entre os estudiosos de que inclusão não se refere
somente às crianças portadoras de deficiência e sim à todas as crianças, jovens e adultos que sofrem qualquer tipo
de exclusão educacional, seja dentro das escolas e salas de aula quando não
encontram oportunidades para participar e para serem parte, quando são expulsos
e suspensos por razões muitas vezes obscuras, quando não tem acesso à
escolarização, e permanecem fora dos muros das escolas, como é o caso de muitos
brasileiros e de um número muito maior de crianças africanas.
Inclusão – há um consenso – implica celebrar a diversidade humana e as diferenças
individuais como recursos existentes dentro das escolas e que devem servir ao
currículo escolar para contribuir na formação para a cidadania. Diversidade e
diferenças constituem uma riqueza de recurso para a aprendizagem na sala de
aula, na escola e na vida.
Inclusão – as pessoas concordam – necessariamente pressupõe a formação
contínua de professores para usarem estratégias de ensino mais diversificadas e
mais dinâmicas, ou seja mais compatíveis às crianças do novo século:
estratégias estas que oportunizem às crianças terem vozes e serem ouvidas e
onde suas experiências de vida e riqueza pessoal assim como suas necessidades e
carências não sejam ignoradas e negligenciadas pelo professor ou pela escola,
mas sejam parte integral da vida
escolar.
Inclusão – há uma concordância – pressupõe uma escola com uma política
participativa e um cultura inclusiva, onde todos os membros da comunidade
escolar são colaboradores entre si, ou seja, apóiam-se mutuamente e aprendem
uns com os outros a partir da reflexão sobre as práticas docentes.
Inclusão – também há concordância – pressupõe um maior envolvimento a família
e a escola e a escola e a comunidade, onde todos buscam uma educação de
qualidade para todas as crianças.
Vamos ver agora algumas definições de educação
inclusiva.
O Centro de Estudos sobre Educação Inclusiva (www.inclusion.uwe.ac.uk) define a
inclusão como sendo uma
‘filosofia que valoriza
diversidade de força, habilidades e necessidades [do ser humano] como natural e
desejável, trazendo para cada comunidade a oportunidade de responder de forma
que conduza à aprendizagem e crescimento da comunidade como um todo, e dando a
cada membro desta comunidade um papel de valor’ (CSEI n.d:p 1).
Valorização individual, portanto, é um dos
pressupostos da educação inclusiva.
O Arquivo
Aberto sobre a Educação Inclusiva (UNESCO 2001, p. 15 – Disponível em: www.unesco.org/education/educprog/sne),
uma publicação da UNESCO contendo materiais de apoio para legisladores,
administradores e gestores escolares, assume que a educação inclusiva diz
respeito aos seguintes assuntos-chave:
- à
crença de que o direito à educação é um direito humano e o fundamento de
uma sociedade mais justa;
- realiza
este direito, através do movimento da Educação para Todos e (EPT – 1990)
trabalha no sentido de tornar a educação básica de qualidade acessível;
- avança
o movimento da Educação Para Todos através de encontrar formas de tornar
as escolas capazes de servirem a todas
as crianças nas suas comunidades, como parte de um sistema educacional
inclusivo;
- inclusão
diz respeito a todos os
aprendizes, com um foco naqueles que tradicionalmente tem sido excluídos
das oportunidades educacionais
Outra publicação relevante na área de educação
inclusiva é o Index para a Inclusão (CSEI
2000. Disponível em www.inclusion.uwe.ac.uk),
que estabelece que
‘inclusão ou educação
inclusiva não é um outro nome para educação das necessidades especiais.
Inclusão envolve uma abordagem diferente para identificar e resolver
dificuldades que ‘emergem na escola (.) [a inclusão educacional] implica um
‘processo que aumente a participação de estudantes [nas atividades e vida
escolar] e reduza sua exclusão da cultura, do currículo e das comunidades das
escolas locais.’
De forma mais simples, podemos dizer que incluir significa fazer parte
da comunidade da escola, ser reconhecido como um membro da comunidade escolar,
ter as mesmas oportunidades que os outros têm e ser tratado como um igual, um
par. Mais recentemente, dois autores ingleses, Ainscow
& Tweddle (2003, pág., 10-11) expressaram a ‘considerável confusão sobre o
que inclusão significa' para as comunidades educacionais que fazem parte de sua
pesquisa na Inglaterra. Porém, estes autores identificaram quatro
elementos-chave na sua definição, como se segue:
Inclusão é um processo, quer dizer, nunca termina porque sempre haverá
um aluno que encontrará barreira para aprender;
Inclusão diz respeito a
identificação e remoção de barreiras, e isto implica coleta contínua de informações que são valiosas para
entender a performance dos alunos a fim de planejar e estabelecer metas;
Inclusão diz respeito a
presença, participação e aquisição de todos os alunos. Presença diz respeito à freqüência e
pontualidade dos alunos na sua escolarização. Participação tem a ver com como
os alunos percebem a sua própria aprendizagem e se a mesma possui qualidade
acadêmica. Aquisição se refere aos
resultados da aprendizagem em termos de todo conteúdo curricular dentro e fora
de escola.
Inclusão envolve uma ênfase
nos grupos de estudantes que podem estar com risco de marginalização, exclusão
e baixa performance educacional. Envolve o monitorando cuidadoso (estatísticas) pelas autoridades
educacionais locais de alunos com risco de exclusão, assim como o apoio
oferecido às escolas para assegurar que as mesmas estão lidando com as
barreiras, a fim de prevenir que estes alunos não sejam excluídos'.
Todas estas definições oferecem os subsídios para a qualificação de um
novo professor(a) e uma nova metodologia de ensino. Um professor comprometido
com a inclusão deve ter em mente que:
- a educação é um direito
humano,
- as crianças estão na
escola para aprender,
- há crianças que são
mais vulneráveis à exclusão educacional do que outras e
- é da responsabilidade
da escola e dos professore(a)s criarem formas alternativas de ensino e
aprendizagem mais efetivas para todos.
Uma metodologia de ensino inclusiva deve ser capaz de garantir que o
aluno se sinta motivado para freqüentar a escola e participar das atividades na
sala de aula, deve possuir qualidade curricular e metodológica, deve
identificar barreiras à aprendizagem e planejar formas de removê-las para que
cada aluno(a) seja contemplado e respeitado em seu estilo de aprendizagem. Neste contexto mais responsivo à diversidade
humana, a prática escolar deve estar fundamentadas na crença de que
o em qualquer período de sua
escolarização, qualquer criança pode enfrentar dificuldades para aprender ou
fazer parte da comunidade escolar;
o as dificuldades de
aprendizagem que emergem no dia a dia da escola/sala de aula constituem um
recurso para melhorar o ensino;
o todas as mudanças geradas
como resultado da tentativa de responder às necessidades de aprendizagem de uma
dada criança oferecem melhores condições para todas as crianças aprenderem;
Tais fundamentos revelam que a inclusão não
depende de diagnóstico ou categorias de deficiências baseada em níveis de
habilidades/capacidades do aluno(a) e não segrega ou discrimina nenhuma criança
com base nas suas características individuais).
Ao invés disso, a inclusão cria oportunidades contínuas para todos os
alunos(as) aprenderem através do uso de estratégias diversificadas de
ensino ao mesmo tempo em que cria bases
firmes para a melhoria da escola e para a capacitação contínua dos
professore(a)s.
Inclusão é um assunto de
direitos humanos!
O Centro de Estudos sobre a Educação Inclusiva, sediado em Bristol na
Inglaterra, defende que a ´inclusão é um
assunto de direitos humanos´. Portanto, estar na escola e ser aceito pela
comunidade escolar é um direito de qualquer pessoa e deve ser assegurado pelo
estado. Na mesma linha, a Convenção dos Direitos da Criança (ONU 1989), como um
instrumento legal das Nações Unidas, estabelece que
Os estados assegurarão a toda criança sob sua jurisdição os
direitos previstos nesta convenção sem
discriminação de qualquer tipo, independentemente de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou outra, origem nacional, étnica ou social,
posição econômica, impedimentos físicos, nascimento ou qualquer outra condição
da criança, de seus pais ou de seus representantes legais. (ONU 1989, Art. 2)
No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente é a lei que ratifica a
convenção e estabelece que...
‘nenhuma criança ou adolescente
será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão, punindo na forma da lei qualquer atentado por
ação ou omissão aos seus direitos fundamentais’ (Art. 5° p. 05)
‘É dever de todos velar pela
dignidade da criança e do adolescente, colocando-os a salvo de qualquer
tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor’ (Art.
18, p.08)
O texto da Declaração de Salamanca afirma que:
´enquanto escolas inclusivas fornecem o contexto
favorável para atingir oportunidades iguais e participação total [no processo
de ensino e aprendizagem], seu sucesso requer um esforço articulado não somente
entre professore(a)s e o pessoal da escola, mas também entre colegas, pais,
famílias e voluntários. A reforma das instituições sociais não constitui
somente uma tarefa técnica; ela depende, sobretudo, da convicção, compromisso e
boa vontade dos indivíduos que constituem a sociedade. ´(UNESCO, 1994, p.11)
A formação de educadores para uma escola inclusiva não se restringe a
cursos de capacitação, reciclagem, aperfeiçoamento e outros que são oferecidos
em diferentes instâncias educacionais. A intuição individual e a prática em
sala de aula devem se somar ao conhecimento científico já existente sobre
estratégias de ensino mais dinâmicas e inovadoras. Tenho visitado muitas escolas
no Brasil e independentemente dos recursos materiais disponíveis, tenho
sistematicamente visto metodologias de ensino extremamente pobres e
ineficientes quanto a promoverem a aprendizagem de cada aluno(a). Um colega inglês visitou algumas escolas em
São Paulo em 2001 e em seu relatório de visita ele diz:
´A situação das classes nas escolas regulares,
em geral, é bastante sem graça, sem atrativos. Com poucas exceções, as classes
possuem paredes limpas, sem trabalhos dos aluno(a)s à mostra, os móveis são de
qualidade pobre, com filas de carteiras individuais alinhadas e voltadas para o
quadro. As lições parecem consistir de
cópias de textos do quadro e há pouca evidência de um envolvimento construtivo
entre professore(a)s e suas turmas. Minhas impressões eram de que os
professore(a)s possuíam somente uma abordagem para ensinar e que as aulas não
tem propósito, direção ou forma. Nas escolas secundárias muitos estudantes
foram observados papeando enquanto ignoravam seus professores nas classes. Eu
também conversei com alguns estudantes que se sentiam desmotivados com as
faltas freqüentes de seus professore(a)s.´
Nós, educadores brasileiros, sabemos que essas impressões refletem a
realidade em nossas escolas. Desta
forma, precisamos urgentemente modificar nossas práticas educacionais
desatualizadas e desmotivantes para ensinar e aprender a planejar uma nova
forma de ministrar aulas, que seja mais dinâmica, interessante e
participativa. O conteúdo curricular
formal pode se tornar mais acessível a todas as crianças e jovens em
escolarização se foram trabalhados através de estratégias de ensino
participativas e inovadoras que possibilitam ao educando(a) aprender a aprender
autônoma e colaborativamente.
Conclusão
A escola não pára nunca, por isso precisamos mudar com a escola em
movimento. A sala de aula, por sua vez, são como pequenos organismos vivos
dentro da escola. Cada classe tem vida e
personalidade próprias. Cada turma estabelece um ´clima´ próprio que não pode
ser negligenciado pelo professor que planeja suas aulas. O professor-educador
deve conhecer cada um de seus alunos, aprender sobre a personalidade e clima de
sua turma, entender sobre as relações de poder dentro da sala de aula, sobre as
experiências, os interesses e os conflitos subjacentes às relações humanas que
permeiam a convivência diária.
Neste ambiente educacional inclusivo com uma filosofia participativa e
democrática, a criança, o adolescente e o adulto serão considerados seres
humanos em sua integralidade e não pessoas com tragédias pessoais, mesmo quando
existem tragédias insuperáveis em suas vidas, tais como, violência doméstica,
abuso sexual, miséria, etc. Toda e
qualquer pessoa nesta nova escola será vista como um ser em potencial para
aprender, contribuir e se desenvolver plenamente até atingir a cidadania como
tanto sonhou e lutou nosso saudoso Paulo Freire (1979). Ele nos mostrou que a inclusão não é uma
utopia, mas uma possibilidade a ser realizada, desde que todos nós iniciemos
uma luta contra nossos preconceitos e formas mais mascaradas de prática de
exclusão.
Assim, não podemos pensar em inclusão sem atingirmos o âmago dos
processos exclusionários tão inerentes à vida em sociedade. Reconhecer a exclusão, seja ela de qualquer
natureza e tome a forma que tomar, é no meu entendimento, o primeiro passo para
nos movermos em direção à inclusão na sala de aula, na escola, na família, na
comunidade ou na sociedade.
Para finalizar, deixo a questão que norteou minha reflexão: você é a
favor ou contra a educação inclusiva?
______________________________________
REFERÊNCIAS
CSEI
(2000) Index para a Inclusão, Centro de estudos sobre a Educação Inclusiva.
Bristol, Inglaterra.
ONU
(1989)
Declaracao Universal dos Direitos da Criança. NY.
UNESCO (1990) Declaração
Mundial de Educação para Todos, UNESCO, Brasil.
UNESCO (1994) Declaração
Mundial de Educação para Todos e Diretrizes de Ação para o Encontro das
Necessidades Básicas de Aprendizagem, UNESCO-Brasil)
UNESCO (1994) Formação de
professores, Necessidades especiais na Sala de Aula, UNESCO: Paris. (Traduzido pelo Instituto de Inovação
Educacional dp ME de Portugal)
UNESCO (2001) Arquivo Aberto sobre a Educação
Inclusiva, UNESCO Paris.
[1] O documento Declaração de Salamanca e
Diretrizes para Ação em Necessidades Educacionais Especiais pode ser solicitado
ao Ministério da Educação de Portugual
Nenhum comentário:
Postar um comentário